Por que houve o golpe de Estado no Paraguai, com a deposição do Presidente Lugo? O que o golpe representa? Quem se beneficia dele? E contra quem ele está?
Wilson Horvath
O
Paraguai sofreu na última sexta-feira, 22 de Junho, um golpe fulminante em seu
processo democrático, que pode ter reflexos em toda a América-Latina. Em um processo
relâmpago, em menos de 48 horas, o congresso paraguaio destituiu do poder o
presidente Fernando Lugo, bispo emérito católico, eleito democraticamente pelo voto da
maioria da população.
A
forma como foi conduzido e os porquês do processo de impeachment paraguaio trazem
à tona a maneira como a oligarquia latino-americana pensa e age, desde o
processo de colonização e infelizmente até os nossos dias.
A
América, antes da colonização, era um continente livre, que se regia conforme a
vontade da população e de seus deuses. É evidente que, como em todos os
agrupamentos humanos e modelos políticos, também aqui apresentava problemas. Porém,
após a chegada dos europeus, os moradores que aqui viviam sofreram atrocidades
jamais vistas, todos os tipos de barbáries foram cometidos, os índios tiveram
suas terras roubadas; as mulheres foram estupradas; aldeias inteiras ora foram
dizimadas ora feitas escravas.
Deste
processo de colonização se formou dois grupos distintos e antagônicos: a
oligarquia exploradora e a população explorada. A cultura e as instituições
consolidadas serviram para ajudar a manter o modelo de crueldade contra o povo ameríndio.
Os deuses indígenas se tornaram demônios e submissos ao Deus cristão; as leis criadas
pelos colonizadores e seus descendentes protegiam e davam forças aos
usurpadores da terra.
A
história, porém, não é estática; ao contrário, está em constante movimento e
caminha em tensão permanente entre as forças opostas. E em nosso continente, as
lutas ora se deram ora pelo confronto armado ora pelo adentramento da população nas
instituições existentes, em que o povo buscou o espaço político, que outrora
era ocupado exclusivamente pelos exploradores.
O
Paraguai talvez tenha sido o primeiro país latino-americano a desenvolver este
último processo de luta. Assim, com o povo participando da política, em meados
do século XIX, o Paraguai despontava como a grande potência econômica de nosso
continente, com grandes avanços em desenvolvimento social e educacional, sendo
chamado, por alguns, de a Suíça americana.
A
ascensão do Paraguai contrariou os interesses dos neo-colonizadores, neste
período, a Inglaterra, que impulsionou a criação da Tríplice-aliança (Brasil,
Uruguai e Argentina) o que culminou na Guerra do Paraguai (1864 – 1870). Após
essa guerra, o Paraguai foi sucateado e a administração pública foi devolvida à
velha elite asquerosa que governou o país em proveito próprio e contra os
pobres.
A
vitória de Fernando Lugo, em 2008, representou o retorno da população ao
governo paraguaio e uma possibilidade de uma volta ao crescimento e desenvolvimento
social, conforme ocorre no período, que precedeu a guerra.
A
conquista social, porém, é um processo longo e dificílimo, e, conforme
dissemos, a realidade se desenrola a partir da disputa das forças opostas. E no
caso paraguaio, a elite conseguiu vencer esta batalha, promovendo um Golpe de
Estado.
O
impeachment sofrido contra Lugo fere em cheio a democracia e o Estado de Direito,
ao ir contra as leis estabelecidas. Não é errado estabelecer um processo contra
um governo, ao contrário, essa é a função do Legislativo, porém da forma como
ocorreu, sem o mínimo de direito de defesa, é uma volta à barbárie, conforme o
fora no período colonial.
O
fato ocorrido no Paraguai infelizmente não foi o único atualmente, o mesmo
ocorreu em Honduras, em 2009, nesta ocasião, o Presidente Mauel Zelaya foi preso
por ordem do poder judiciário.
E
o mesmo desejo está presente na mentalidade de toda a elite latino-americana. Basta
ver os discursos da grande mídia brasileira em relação aos dois episódios. E o desejo permanente que ela tem de fazer o mesmo em solo brasileiro, como também aspira que isso ocorra na Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador - países governados por presidentes voltados aos pobres.
Ainda
não sabemos quais serão os desfechos que se originaram deste triste afronte a
democracia, pode ser que o tiro sai pela culatra, ou seja, a população, que
está fora das decisões, se indigne com o fato e comece a participar mais do processo
político e tire ou, ao menos, minimize a participação destes tiranos da
política paraguaia.
A
comunidade internacional também se pronunciará e agirá. E nós brasileiros precisamos
estar atentos a fim de colaborar com fortalecimento da democracia, em especial
em nosso continente. O que talvez nos redima um pouco de nossa culpa com a miséria
vivida pelos paraguaios, dada entre outros motivos pela Guerra que travamos
contra nossos hermanos paraguaios a mando da Inglaterra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário