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sábado, 23 de junho de 2012

O golpe de Estado no Paraguai e o futuro da democracia latino-americana


Por que houve o golpe de Estado no Paraguai, com a deposição do Presidente Lugo? O que o golpe representa? Quem se beneficia dele? E contra quem ele está?



Wilson Horvath

O Paraguai sofreu na última sexta-feira, 22 de Junho, um golpe fulminante em seu processo democrático, que pode ter reflexos em toda a América-Latina. Em um processo relâmpago, em menos de 48 horas, o congresso paraguaio destituiu do poder o presidente Fernando Lugo, bispo emérito católico, eleito democraticamente pelo voto da maioria da população.
A forma como foi conduzido e os porquês do processo de impeachment paraguaio trazem à tona a maneira como a oligarquia latino-americana pensa e age, desde o processo de colonização e infelizmente até os nossos dias.
A América, antes da colonização, era um continente livre, que se regia conforme a vontade da população e de seus deuses. É evidente que, como em todos os agrupamentos humanos e modelos políticos, também aqui apresentava problemas. Porém, após a chegada dos europeus, os moradores que aqui viviam sofreram atrocidades jamais vistas, todos os tipos de barbáries foram cometidos, os índios tiveram suas terras roubadas; as mulheres foram estupradas; aldeias inteiras ora foram dizimadas ora feitas escravas.
Deste processo de colonização se formou dois grupos distintos e antagônicos: a oligarquia exploradora e a população explorada. A cultura e as instituições consolidadas serviram para ajudar a manter o modelo de crueldade contra o povo ameríndio. Os deuses indígenas se tornaram demônios e submissos ao Deus cristão; as leis criadas pelos colonizadores e seus descendentes protegiam e davam forças aos usurpadores da terra.
A história, porém, não é estática; ao contrário, está em constante movimento e caminha em tensão permanente entre as forças opostas. E em nosso continente, as lutas ora se deram ora pelo confronto armado ora pelo adentramento da população nas instituições existentes, em que o povo buscou o espaço político, que outrora era ocupado exclusivamente pelos exploradores.
O Paraguai talvez tenha sido o primeiro país latino-americano a desenvolver este último processo de luta. Assim, com o povo participando da política, em meados do século XIX, o Paraguai despontava como a grande potência econômica de nosso continente, com grandes avanços em desenvolvimento social e educacional, sendo chamado, por alguns, de a Suíça americana.
A ascensão do Paraguai contrariou os interesses dos neo-colonizadores, neste período, a Inglaterra, que impulsionou a criação da Tríplice-aliança (Brasil, Uruguai e Argentina) o que culminou na Guerra do Paraguai (1864 – 1870). Após essa guerra, o Paraguai foi sucateado e a administração pública foi devolvida à velha elite asquerosa que governou o país em proveito próprio e contra os pobres.
A vitória de Fernando Lugo, em 2008, representou o retorno da população ao governo paraguaio e uma possibilidade de uma volta ao crescimento e desenvolvimento social, conforme ocorre no período, que precedeu a guerra.
A conquista social, porém, é um processo longo e dificílimo, e, conforme dissemos, a realidade se desenrola a partir da disputa das forças opostas. E no caso paraguaio, a elite conseguiu vencer esta batalha, promovendo um Golpe de Estado.
O impeachment sofrido contra Lugo fere em cheio a democracia e o Estado de Direito, ao ir contra as leis estabelecidas. Não é errado estabelecer um processo contra um governo, ao contrário, essa é a função do Legislativo, porém da forma como ocorreu, sem o mínimo de direito de defesa, é uma volta à barbárie, conforme o fora no período colonial.
O fato ocorrido no Paraguai infelizmente não foi o único atualmente, o mesmo ocorreu em Honduras, em 2009, nesta ocasião, o Presidente Mauel Zelaya foi preso por ordem do poder judiciário.
E o mesmo desejo está presente na mentalidade de toda a elite latino-americana. Basta ver os discursos da grande mídia brasileira em relação aos dois episódios. E o desejo permanente que ela tem de fazer o mesmo em solo brasileiro, como também aspira que isso ocorra na Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador - países governados por presidentes voltados aos pobres.
Ainda não sabemos quais serão os desfechos que se originaram deste triste afronte a democracia, pode ser que o tiro sai pela culatra, ou seja, a população, que está fora das decisões, se indigne com o fato e comece a participar mais do processo político e tire ou, ao menos, minimize a participação destes tiranos da política paraguaia.
A comunidade internacional também se pronunciará e agirá. E nós brasileiros precisamos estar atentos a fim de colaborar com fortalecimento da democracia, em especial em nosso continente. O que talvez nos redima um pouco de nossa culpa com a miséria vivida pelos paraguaios, dada entre outros motivos pela Guerra que travamos contra nossos hermanos paraguaios a mando da Inglaterra.




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